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sábado, 14 de maio de 2016

PCC: há 10 anos, Sorocaba vivia dias de terror

Ônibus e unidades da Polícia foram alvos de ataques e houve confrontos com mortes e feridos


fonte : Jornal cruzeiro do Sul
http://www.jornalcruzeiro.com.br/


Ônibus incendiado durante os ataques da facção criminosa em Sorocaba - FÁBIO ROGÉRIO/ARQUIVO JCS

Há exatos 10 anos, entre os dias 12 e 21 de maio, um cenário de guerra entre a facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) e forças da Secretaria da Segurança Pública do Estado de São Paulo instaurou o terror na população. Foram registrados ataques em várias cidades paulistas, entre as quais, Sorocaba.

Os ataques começaram na noite do dia 12, uma sexta-feira. No dia 14, um domingo, Dia das Mães, o tradicional clima de festa em família foi substituído pela tristeza dos sepultamentos com ampla cobertura da imprensa. Muitas mães de policiais e de civis choraram os filhos mortos.


Até o dia 18 daquele mês, o balanço parcial foi de 293 ataques. O saldo era de 41 agentes públicos mortos, 107 civis mortos em confrontos, 38 agentes feridos e 16 civis feridos. E mais: 124 pessoas teriam sido presas e 146 armas teriam sido apreendidas.

Esses dados estão descritos no estudo de Análise dos Impactos dos Ataques do PCC em São Paulo em maio de 2006, do Laboratório da Análise da Violência (LAV-UERJ), em pesquisa coordenada por Conectas Direitos Humanos, de 2008.

O relatório final do documento informa que se baseia em 493 óbitos por arma de fogo entre os dias 12 e 21 de maio de 2006, enquanto que o estudo recebeu documentos relativos a 564 mortes no mesmo período.

Órgão defensores dos direitos humanos, levanto em conta o número de mortes de civis, suspeitaram de "excessos" nas ações das forças policias como resposta aos ataques e pediram esclarecimentos ao governo paulista.


Alvos da violência

Entre os ataques, 82 tiveram os ônibus como alvo, 56 a casas de policiais, 17 a bancos e caixas eletrônicos. Entre os mortos estavam policiais civis e militares, guardas municipais, agentes penitenciários e até bombeiros. E muitos civis.

Simultaneamente, ao longo daqueles dias, houve rebeliões em delegacias, casas de custódias e penitenciárias. Além de ataques violentos contra ônibus e metrô, bancos e outros prédios públicos. Prefeituras, comércios, escolas e universidades fecharam as portas. O pânico tomou conta das ruas e a rotina nas cidades virou um caos. Em vários momentos boatos de novos ataques deixaram ruas e avenidas desertas em vários municípios.



Marca de tiros em unidade policial - ALDO V. SILVA/ARQUIVO JCS

Represália

Segundo o governador interino na época da onda de violência, Cláudio Lembo (ex-PFL), os ataques eram uma represália dos presos contra a transferência de 765 detentos para a penitenciária do interior paulista, concebida como de segurança máxima, entre eles o líder do PCC Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola. Conforme as autoridades, as transferências foram autorizadas após a descoberta de um plano de ataque à lideranças políticas do Estado por parte do PCC.



'Não houve acordo coisa nenhuma'

A grande lição dos ataques de 2006 foi que a partir de então a polícia passou a fazer um monitoramento mais rigoroso dentro dos presídios. A avaliação é do coronel José Vicente da Silva Filho, que é consultor e especialista em segurança. 
  
Segundo José Vicente, a polícia passou a acompanhar com quem os presidiários se reuniam e com quem se relacionavam do lado de fora das cadeias. Disse que a polícia, com respaldo legal, usou recursos de receptação telefônica e buscou informantes entre pessoas que eram contrárias ao PCC. E, além disso, começou a implantar o Regime Disciplinar Diferenciado (RDD). 
  
Na sua análise, com essas medidas a polícia passou a ter condições de antecipar as ações do PCC e isso acabou por enfraquecer a facção criminosa. "As lideranças apanhadas foram mandadas para o chamado RDD e se descobriu em escuta telefônica que o bandido tem verdadeiro pavor do RDD", afirma. 
  
Este regime consiste em ambiente de isolamento total, com uma hora de banho de sol por dia num pequeno pátio, sem conversa com ninguém, sem rádio nem televisão, sem visita íntima, E a conversa com advogado ou familiar é feita por meio de vidro blindado. 
  
Na visão de José Vicente, essa ação de inteligência da polícia era "muito precária" antes de 2006. Depois, por meio dos canais de comunicação acionados, a polícia passou a ter informações sobre onde morava o pai do preso, a amante, a namorada, os amigos. "O monitoramento dessas pessoas acabou proporcionando um quadro da posição dos criminosos, o que eles conversavam, tipo de assunto", disse o coronel. Ele informa que a Polícia Federal colaborou com esse trabalho de inteligência. 
  
Com os ataques, recorda José Vicente, "a polícia entrou em perplexidade, ela não esperava isso." E pondera: "Se ela tivesse serviço de inteligência, teria detectado previamente a ação contra os policiais." Ele lembra que a polícia demorou uns dias para retomar o controle da situação e isso acabou acontecendo a partir da prisão de mais de 500 membros do PCC e nos confrontos que resultaram em mais de 100 mortes. 
  
Segundo o coronel, os líderes dos criminosos tinham convocado muitos bandidos que estavam com débitos junto à facção e deram-lhes ordens para matar policiais ou familiares e a alternativa era eles mesmos sofrerem represálias. Com a reação das forças policiais, esses membros cobraram as lideranças do PCC sobre os prejuízos. Além das prisões e mortes, a onda de violência comprometeu a venda de drogas. "Foi só prejuízo para o PCC", resume o coronel. 
  
"O que controla o crime é a eficiência da resposta que você dá ao criminoso", avalia José Vicente. E rebate as especulações de que o fim da onda de violência tenha se originado de eventual acordo entre o governo e a facção. Argumenta que se tivesse havido acordo, não teria havido mais de 500 prisões e mais de 100 mortes: "Não houve acordo coisa nenhuma." 
  
"Logo depois dos ataques a polícia se ajustou, começou a patrulhar locais com duas viaturas juntas, ampliou o trabalho de inteligência e foi para cima dos criminosos", ele descreve. E compara: "Tanto que, nos últimos cinco anos, não tivemos rebeliões nem fugas nem mortes em presídios no Estado de São Paulo, diferentemente do que se vê em outros Estados." 

Sorocaba teve mortes de policiais

Os ataques do PCC, em 2006, geraram pânico em grande parte das cidades paulistas. Na região de Sorocaba, o primeiro registro foi no dia 13 de maio (sábado), com o assassinato dos policiais militares Ricardo Carvalho de Deus, de 37 anos, e Marcelo Martins Prestes, de 29 anos, que eram de Sorocaba e trabalhavam na cidade de Salto. Ainda naquele sábado, à noite, duas Companhias da PM foram alvo dos bandidos: a 2ª Cia., da avenida Ipanema, com 15 disparos, e a 5ª Cia., localizada no Mineirão. 
  
No domingo, Dia das Mães, uma rebelião foi registrada no presídio de Itapetininga e também houve a execução, com 22 tiros, do agente penitenciário Robson Cleis, de 46 anos, num bar da Vila Haro, em Sorocaba. Criminosos também atearam fogo, durante a noite de domingo, no 8º Distrito Policial, localizado na zona norte 
  
Na segunda-feira, dia 15, quatro ônibus foram incendiados e o pânico tomou conta da população. No meio da tarde, um boato de que membros do PCC estariam na cidade levou boa parte do comércio a fechar as portas. A normalidade começou a ser recuperada somente na terça-feira, dia 17, com o fim dos ataques. Ao todo, em Sorocaba foram queimados nove ônibus. 

Governo diz que aumentaram prisões

A Secretaria da Segurança Pública de São Paulo (SSP/SP), por meio de sua assessoria de imprensa, informa que houve aumento de 80% no número de prisões entre 2006 e 2015. 
  
Veja a íntegra da nota da SSP/SP: 
  
"A Secretaria da Segurança Pública esclarece que as mortes ocorridas em maio de 2006 foram investigadas pela Polícia Civil e pela Corregedoria da PM. As investigações foram acompanhadas pelo Ministério Público e relatadas à Justiça. Todas as ocorrências de morte foram apuradas, à época, com rigor, assim como as denúncias de eventuais homicídios que poderiam ter policiais como autores. 
  
Em São Paulo, o combate ao crime, organizado ou não, é realizado diuturnamente pelas forças de segurança do Estado em parceria com o poder Judiciário e o Ministério Público. Desde 2006, o orçamento do Estado para a Secretaria da Segurança Pública cresceu 94% acima da inflação do período, passando de R$ 9,3 bi para R$ 24,8 bi em 2016 o montante é o triplo dos R$ 8,1 bilhões reservados pelo governo federal para todo o país. O crescimento do investimento foi proporcional à queda do principal índice de criminalidade. No período entre 2006 e 2016, a taxa de homicídios por 100 mil habitantes caiu 44%, o que significou mais de 100 mil vidas salvas. Isso também resultou no reconhecimento unânime dos principais organismos nacionais e internacionais, como ONU, Unesco, IPEA, Ministério da Justiça, Fórum Nacional de Segurança Pública e Mapa da Violência no Brasil como exemplo a ser seguido, por ter sido o estado que mais reduziu o número de assassinatos no país ao longo dos últimos anos. 
  
O aumento constante de investimento permitiu a expansão dos sistemas tecnológicos de combate ao crime, como o sistema de informações criminais (Infocrim) e o Registro Digital de Ocorrências (RDO), que criaram para as polícias o chamado mapa da criminalidade, pelo qual é possível estabelecer os pontos onde há maior ocorrência e planejar o policiamento com maior precisão. A disseminação da cultura da inteligência policial foi acrescida a partir de 2014 pela implantação do Detecta, sistema de monitoramento integrado, que já conta com 3.833 câmeras de inteligentes que emitem alertas imediatos para a polícia quando registram delitos. 
  
Com mais investimento, informações e tecnologias disponíveis, a produtividade das polícias aumentou, em especial os números de prisões e apreensões. Houve um aumento de 80% no número de prisões entre 2006 e o ano passado, de 90,9 mil em 2006 para 163,9 mil em 2015. Ao longo dos últimos 10 anos, as polícias de São Paulo tiraram das ruas mais de 775 toneladas de drogas, como cocaína, crack e maconha. Só no passado foram cerca de 120 toneladas apreendidas. Ações como essas atingem diretamente o poderio financeiro de organizações criminosas, limitando suas ações. Pesquisa recente publicada pelo Ministério da Justiça reconhece a excelência das forças de segurança do Estado, que lidera o ranking nacional de eficiência policial. 
  
O Estado também inovou na gestão e criou programas como a Atividade Delegada hoje em operação em 58 cidades e a Diária Especial por Jornada Extraordinária de Trabalho (Dejem). 
  
Todos estes resultados foram obtidos com o aumento de transparência sobre a ação da polícia. A Secretaria de Segurança Pública de SP foi a pioneira no Brasil a divulgar periodicamente as estatísticas de criminalidade. Inicialmente, os dados eram divulgados trimestralmente e por região. Desde março de 2011, as estatísticas passaram a ser divulgadas mensalmente por Estado, área, município e até por unidade policial." 

Havia atiradores no telhado da Seccional

O delegado seccional de Polícia de Sorocaba, Marcelo Carriel, recorda que um ataque marcante, naquela onda de violência de maio de 2006, foi a execução de um bombeiro em São Paulo. "O bombeiro não tinha naturalmente que ser um alvo do crime organizado porque ele atua na proteção de vidas, salvar vidas", compara. Outra vítima foi um policial militar. 
  
A partir de então começou a se desenhar o cenário de ataques pré-determinados, planejados e em série. Um comunicado eletrônico da Delegacia Geral de Polícia, com inscrição de "urgente", alertou as unidades da Polícia Civil de que os ataques não foram isolados e teriam continuidade. Carriel (que na época era titular do 5º Distrito Policial de Sorocaba) informou que a partir de então foram reforçados todos os plantões da Polícia Civil, e todos os policiais civis tiveram ciência da situação e a atenção foi redobrada no trânsito durante o deslocamento de viaturas. 
  
O acesso aos plantões ganhou restrições com sinalização e cones. O prédio da Delegacia Seccional de Polícia, onde funciona o Plantão Sul, posicionou atiradores em pontos estratégicos do telhado, escalados em turnos. Eram policiais especializados em tiro de longa distância com arma longa do tipo fuzil e carabina. O prédio fica num ponto alto, com visão privilegiada dos acessos. 
  
Carriel classifica todos os ataques a ônibus na cidade como atos de vandalismo. Os autores não pertenciam a nenhuma facção e aproveitaram a onda de violência. A morte dos dois policiais teve relação com os ataques da facção, na avaliação de Carriel, e informa que os três autores do crime foram identificados e presos. 
 


Polícia nas ruas do Centro e lojas fecham no meio da tarde - ALDO V. SILVA/ARQUIVO JCS

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