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sexta-feira, 24 de junho de 2016

Era uma vez em SP… Penitenciária do Carandiru

IMPLODIDA HÁ MAIS DE 10 ANOS, PENITENCIÁRIA TEVE HISTÓRIA MARCADA POR MASSACRE DE PRESOS EM 1992

Liz Batista
 Guarda  vigia detentos jogando futebol na Casa de Detenção do Carandiru, em 1970. Acervo/Estadão  

Diferente de todos os demais lugares tratados na série Era uma vez em SP… a Penitenciária do Carandiru não está gravada de maneira saudosa na memória dos paulistanos. Pelo contrário, a história do presídio está marcada pela rebelião de presos que terminou no massacre de 111 detentos pela Polícia Militar em outubro de 1992, um dos episódios mais perturbadores da ação policial em São Paulo.
Após um longo processo de desativação, aos poucos a cidade foi se despedindo do presídio. Os pavilhões 6, 8 e 9 foram implodidos em 2002 e há mais de 10 anos foram os pavilhões 2 e 5 que foram ao chão, terminando o processo de implosão do Carandiru. No local  foi erguido o Parque da Juventude. Os pavilhões 4 e 7 foram transformados em Escolas Técnicas.
A Penitenciária do Estado começou a ser construída em 1911 e foi inaugurada em 1920 sob a promessa de ser um estabelecimento prisional modelo. Na época, São Paulo vivia um período de desenvolvimento econômico, que se beneficiava e estimulava o crescimento populacional da região. Nesse mesmo período, o aumento da criminalidade e a ausência de estabelecimentos prisionais adequados estavam entre os problemas enfrentados pelo Estado. A construção da nova penitenciária mostrava-se uma necessidade. O bairro do Carandiru, na zona norte, foi escolhido para abrigar o complexo. Francisco de Paula Ramos de Azevedo foi o engenheiro-arquiteto responsável pela obra, que tinha como modelo a arquitetura prisional francesa.
O Estado de S. Paulo – 13/5/1911 e 21/4/1920
  
Superlotação e massacre. Na década de 1940 a prisão começou a exceder sua lotação máxima. Em 1956 ganhou novos pavilhões, após reforma e ampliação das instalações, passou a ser foi considerada uma das prisões mais seguras do mundo. Mas, a falta de investimentos na estrutura prisional, o aumento do índice de criminalidade e a falta de estabelecimentos prisionais no Estado, fizeram crescer o número de detentos no Carandiru, nos anos 70, 80 e 90. Mesmo antes do massacre, a imagem de instituição modelo havia ficado há tempos no passado por causa da violência entre os muros, fugas e a superlotação. O Carandiru havia sido projetado para abrigar 3.300 detentos. Entretanto, no dia 2 de outubro de 1992, estava com mais de 7 mil presos.
O Estado de S. Paulo –  4/10/1992
  

História Penitenciaria do Carandirú

História Penitenciaria do Carandirú
Casa de Detenção de São Paulo, popularmente conhecida como Carandiru por localizar-se no bairro homônimo dacidade de São Paulo, foi uma penitenciária que se localizava na zona norte de São Paulo. Foi inaugurada na década de 1920 e sua construção é do engenheiro-arquiteto Samuel das Neves.
A denominação de Casa de Detenção foi dada pelo interventor federal Ademar Pereira de Barros que em 5 de dezembro de 1938, pelo decreto estadual 9.789, extinguiu a Cadeia Pública e o Presídio Político da Capital. Este decreto previa separação de réus primários de presos reincidentes e separação dos presos pela natureza do delito.
Já chegou a abrigar mais de oito mil presos, sendo considerado à época o maior presídio daAmérica Latina. Foi desativado e parcialmente demolido em 2002 no governo de Geraldo Alckmin, no local foi construído o Parque da Juventude.

HISTÓRICO

 PERÍODO 1920-1940

O Complexo Penitenciário do Carandiru, que se notabilizou recentemente por sua superlotação, má administração e pelos massacres violentos que ali ocorreram, foi – por ocasião de sua inauguração – considerado um presídio-modelo, tendo sido projetado para atender às novas exigências do Código Penal republicano de 1890, de acordo com as melhores recomendações do Direito Positivo da época.
O projeto do presídio que venceu a licitação foi inspirado no Centre pénitentiaire de Fresnes, na França, no modelo “espinha de peixe” (que ainda existe – em funcionamento até hoje – nos arredores de Paris) e recebeu o título de “Laboravi Fidenter”. Foi elaborado pelo engenheiro-arquiteto Giordano Petry, tendo, no decorrer de sua execução, sofrido algumas adequações feitas por Ramos de Azevedo, razão pela qual esse último costuma ser citado, incorretamente, como sendo seu autor.
A construção dos dois pavilhões originais do presídio ficou a cargo do Escritório Técnico Ramos de Azevedo e foi executada segundo as mais modernas técnicas existentes na época, utilizando os melhores materiais, a maioria deles importados.
O custo da obra, inicialmente orçado em cerca de sete mil contos de réis, atingiu cerca de catorze mil contos de réis. Para se ter uma ideia do que significavam esses valores, na época, uma cadeia comum podia ser construída por mil contos de réis.

Por duas décadas, de 1920 a 1940 – ano em que atingiu sua capacidade projetada máxima de 1 200 detentos – o presídio, então chamado Instituto de Regeneração, foi considerado um padrão de excelência nas Américas, atraindo a visita de inúmeros políticos, estudantes de direito, autoridades jurídicas italianas e até mesmo personalidades como Claude Lévi-Strauss, que vinham a São Paulo para visitá-la.
Em 1936 Stefan Zweig – amigo pessoal deSigmund Freud – escreveu em seu livroEncontros com homens livros e países“que a limpeza e a higiene exemplares faziam com que o presídio se transformasse em uma fábrica de trabalho. Eram os presos que faziam o pão, preparavam os medicamentos, prestavam os serviços na clínica e no hospital, plantavam legumes, lavavam a roupa, faziam pinturas e desenhos e tinham aulas.”
A penitenciária do Carandiru era aberta à visitação pública e chegou a ser considerada um dos cartões postais da cidade de São Paulo.
É somente a partir de 1940 – quando a penitenciária excedeu sua lotação máxima – que ela começa a passar por sucessivas crises e brigas.
1940-2000
Numa das várias tentativas de resolver esses problemas de superlotação foi construída a Casa de Detenção, concluída em 1956 no governo de Jânio Quadros, que elevou sua capacidade para 3 250 detentos, mas que – ao mesmo tempo – era um anexo cuja arquitetura não se adequava totalmente ao projeto original do complexo, embora fosse adequado aos padrões da época.
Desde então a história do Carandiru passa a não ser nada mais que crises e rebeliões, que culminam com os famosos massacres de 1992, quando então, as autoridades penitenciárias amontoavam, em péssimas condições, cerca de oito mil detentos.
Um dos fatos mais conhecidos da história do presídio ocorreu em 1992, quando 111 detentos foram mortos pelaPolícia Militar de São Paulo durante uma rebelião, os quais resistiram às investidas policiais. Esse fato teve grande repercussão nacional e internacional. A canção “Diário de um detento“, do grupo de rap Racionais MC’s, versa a respeito da vida dos detentos e sobre tudo sobre o que que ficou conhecido como “o massacre do Carandiru”. Segundo muitos presos, o número oficial está abaixo da realidade, já que se afirma que pelo menos 250 detentos foram mortos na invasão.
Em 2000 foi criado o grupo 509-E no interior do presídio. O grupo gravou dois álbuns dentro do presídio, obtendo uma vendagem alta de cópias para o mercado brasileiro de rap.

Resquícios da “muralha” da penitenciária foram transformados em passarelas cercadas de arborização.

DESATIVAÇÃO

Em 2002, iniciou-se o processo de desativação do Carandiru, com a transferência de presos para outras unidades. Hoje o presídio já se encontra totalmente desativado (com exceção apenas a ala hospitalar ainda ativada atualmente), com alguns de seus prédios já demolidos e outros que foram mantidos, para serem posteriormente reaproveitados.
O governo do estado de São Paulo construiu um grande parque no local, o Parque da Juventude, além de instituições educacionais e de cultura. Um de seus pavilhões foi reaproveitado para ser instalado no edifício a Escola Técnica Estadual do Parque da Juventude, popularmente chamada de Etec Parque da Juventude.

CARACTERÍSTICAS

Apesar do desenho dos pavilhões serem muito similares, os mesmos possuíam diferenças em relação à população que os habitava, cada um com suas peculiaridades. Comuns a eles, é interessante citar os corredores chamados de “rua Dez”. Por estarem localizados opostos às escadas, a rua Dez era propícia a acerto de contas, brigas mais sérias e mortes, pois até que os carcereiros lá chegassem, os envolvidos já teriam sido avisados pelos olheiros que ficavam nos corredores de acesso.

PAVILHÃO 2

Lugar para onde iam os detentos recém chegados à casa de detenção. Primeiramente havia uma passagem por esse pavilhão, para que os mesmos fossem registrados, fotografados, recebessem corte de cabelo característico, calça bege (única cor permitida) e encaminhados para outros pavilhões. Nesse pavilhão os mesmos recebiam a palestra inicial onde eram introduzidos às primeiras regras da detenção.

PAVILHÃO 4

O mais “desejado” entre os novos presos por não ser tão populoso, e contar com celas individuais. Esse pavilhão, foi criado com a intenção de ser uma área médica, e apesar de nunca tê-lo sido de forma exclusiva, acabou por manter essa característica. No térreo ficavam os presos tuberculosos, no segundo andar, os doentes mentais ou aqueles que fingiam sê-lo e no quinto, a enfermaria.
No térreo desse pavilhão existiu uma ala conhecida como masmorra. Celas apertadas, úmidas e escuras onde ficavam detentos jurados de morte por outros presos e que não podiam ser transferidos para outros pavilhões. Essas celas foram motivo de frequentes polêmicas com aimprensa e organizações humanitárias. Todavia, as mesmas eram uma garantia de vida para esses presos, que preferiam não sair dali, a não ser para outro presídio.

PAVILHÃO 5

O mais populoso dos pavilhões, também considerado o mais humilde de todos, sendo seus habitantes olhados com certo desdém pelos detentos de outros pavilhões. No primeiro andar, ficavam as celas de castigo. Semelhantes às masmorras, trancafiavam por cerca de trinta dias infratores internos (porte de drogasarmas, desacato etc.). No terceiro andar eram alojados estupradores, justiceiros (matadores “profissionais” de ladrões) e aqueles que foram expulsos de outros pavilhões. O quarto andar, possuía perfil similar ao terceiro, porém com presença de muitostravestis. O quinto andar, foi conhecido como amarelo, e abrigou de forma precária muitos presos jurados de morte. Esses presos, por estarem ameaçados não tinham banho de sol, e ficavam acuados em suas celas. Por isso tinham a aparência amarelada, o que deu o apelido do setor. Devido a todos esses fatores, tal pavilhão foi sempre considerado o mais armado dos pavilhões.

PAVILHÃO 6

Era onde ficava a cozinha, já há muitos anos desativada. Um antigo cinema (destruído em rebelião) transformado em um grande auditório no segundo andar. Salas de administração no segundo e terceiro. Celas no quarto e quinto, sendo que este último andar ainda possuía uma área destinada a abrigar presos com o mesmo perfil que o amarelo, devido à superpopulação no pavilhão 5.

PAVILHÃO 7

Foi considerado de todos os mais calmo, chegando a permanecer dois ou três anos sem mortes. Criado com o intuito de ser um pavilhão de trabalho, o sete permaneceu habitado por detentos com ocupações laboriosas, como confecção de bolas, pipas, barcos e outras atividades. Este também era o preferido por aqueles que pretendiam fazer escavações e tentar a fuga, por ser o mais perto das muralhas.

PAVILHÃO 8

Provavelmente o lugar onde moravam os presos mais respeitados, por serem reincidentes no crime, conheciam muito bem as regras prisionais e sabiam como se comportar neste ambiente. Nem por isso deixava de ser tenso e violento. Junto a este, ficava o campo de futebol que era o maior, dentro da Casa.

PAVILHÃO 9

Ficou famoso fora da Casa de Detenção. Seus habitantes eram réus primários, o que acabava muitas vezes por gerar conflitos, já que os mesmos eram impetuosos e ainda sem a assimilação completa das regras a serem seguidas.

Fonte: Acervo Estadão

Um comentário:

  1. Tenho a impressão que estamos revivendo a história. Super lotação da população carcerária, falta de funcionários.e outras dificuldades do dia a dia
    Não precisamos de outro massacre.os funcionários precisam ser OUVIDOS .porque só nós ASPs sabemos como é enfrentar as mazelas diárias do nosso sistema prisional.Nós é não os engravatados que ficam atrás de uma mesa.

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